Moravam numa casa simples, longe do centro da cidade. Cultivavam uma horta, que era a sobrevivência da família.
Stella corria e corria por entre as flores do jardim. Carregada de folhas no cabelo, ela voltava pra casa. E sua mãe, como sempre, tirava as folhas com todo cuidado para não desmanchar os cachos da menina. Era uma menina educada de olhos marcantes. Encantava e alegrava tudo a sua volta.
- Lave as mãos, menina. Vamos jantar.
Era a parte do dia que Stella mais se sentia segura. Ficava sentada a mesa com seu pai enquanto sua irmã mais velha ajudava a mãe a servir o jantar.
- Teremos torta de maçã para sobremesa. – cochichou a irmã em seu ouvido.
Maçã era sua fruta preferida. Nunca achou que frutas combinassem com massas. Mas, aquele dia, ao morder o primeiro pedaço da torta, ela mudou de opinião. E todos os dias sua mãe a ouvia pedir a sua torta preferida. Torta de maçã.
Os anos foram se passando, e Stella viu sua mãe falecer. Sem aguentar a dor da perda, meses depois, também, seu pai. Aos 23 anos, sua irmã, Alice, se casou com um rapaz da faculdade. Sabendo que, Stella, com 18, já era madura e responsável o suficiente para cuidar de si mesma, mandou-a de viagem para estudar.
Stella encontrou Pedro, seu primeiro e único amor. Com quem se casou e teve 2 dois filhos. Uma linda e grande casa, seus filhos tinham de tudo, e ela tinha todo amor que merecia. Mas, toda noite, antes de dormir, Stella pensava em como gostaria que seus pais estivessem vivos desfrutando daquilo com ela.
Alguns meses após seu segundo filho ter nascido, Stella recebeu uma carta do marido de sua irmã, dizendo que ela falecera devido a uma tuberculose. Ficou pasma, e não falou com ninguém durante dias.
Passaram-se anos e Stella viu seus filhos crescerem e sua vida envelhecer. Seu marido, embora não estivesse jovem como quando ela o conheceu, preservava o mesmo sorriso e afeto que a cativara.
Lindos anos, não é, Dona Stella?
Sentada em sua cadeira de balanço, deixou cair algumas lágrimas ao relembrar sua vida. Mas, logo deu conta de que não havia o que fazer, as coisas não voltariam. Levantou-se e foi tomar seus remédios. Afinal, era o que tinha que fazer. Continuar a viver, independente do que havia passado. Pois naquela casa, onde ela era sua própria companhia, ficaram os vestígios de lindos sorrisos e longos abraços. E, por mais que estivesse sozinha na vida, se orgulhava em lembrar e agradecia aos céus por tudo que teve.
Naquela tarde, com o coração transbordando em recordações, Stella sentou-se na cama e pegou o álbum de fotografias. Percebeu que, com certa frequência, as pessoas iam desaparecendo de lá, mas, o sorriso das que ficavam era sempre o mesmo. Refletiu. Tomou seu último remédio, beijou a foto da família e sorriu. Era feliz, apesar de tudo. Deitou-se e dormiu. E, todas aquelas flores que deveria regar quando acordasse, murcharam e caíram sem vida.
3 comentários:
Meu bem bacana esse texto alias maneirissimo esse seu blog! e mostra q apesar das pessoas passarem nas nossas vidas elas sepre deixam recordações!!!!
Que bonito cara, que bonito. Quem disse que você não tem consegue nos fazer imaginar a história durante a leitura? Gostei, gostei. E comentei pra mostrar que sempre to por aqui, ha!
You Only Live Once
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