segunda-feira, 23 de maio de 2011

Beijos pra torcida!

         Muitos dos meus atos foram criticados, mas, muitos dos deles também.
         Eu aprendi que tenho que esquecer aquelas coisas que ficaram engasgadas por anos, porque, se não foram ditas até agora, é porque não devem ser ditas.
         E toda aquela história de que as coisas duram pra sempre, ahhh, hoje eu dou risada. Mas, não me culpo, eu era muito ingênua para duvidar de coisas tão bonitas.
          Vejo o que tenho, e comparando com o que tive, meu Deus! É tudo tão concreto e decente. Me dei ao luxo de poder escolher em quem e no que acreditar.
          Mas, ainda assim, continua difícil para mim, ter que aceitar mentiras pequenas e ridículas. Coisas ocultas que eu sempre acabo por saber.
         Eu passei a perceber que eu tenho o controle do que posso evitar, ignorar ou aceitar.
         Mas, ainda assim, não consigo ter controle nos momentos que eu mais quero ter.
         E, além de tudo isso, passei a amar as coisas simples. Gosto de guardar folhas e flores secas e borboletas e mariposas mortas.
         Esses dias, com um frio absurdo, tentei esquentar minhas pernas no Sol, quase impotente, que passava pela minha janela. Senti que era ali onde eu deveria estar, e que, por mais que eu praguejasse contra o Sol, naquele dia, ele foi uma das coisas que me alegrou.
         E esses dias, enquanto lavava a louça, pensei em tanta besteira que perdi a vontade de prosseguir. Uma simples música enxaguou meu sorriso, tirando, assim, o sabão.
        Sabe, há quase mil motivos pra eu ignorar o que ouço e vejo em cada esquina.
        Mas, eu confesso, por mais que eu tente, eu não consigo.
        E pra todos aqueles que torcem para que eu nunca consiga... um beijo! 
Odeio tornar isso tão pessoal.

Lágrimas do tempo, sorrisos da alma.

         Moravam numa casa simples, longe do centro da cidade. Cultivavam uma horta, que era a sobrevivência da família.
Stella corria e corria por entre as flores do jardim. Carregada de folhas no cabelo, ela voltava pra casa. E sua mãe, como sempre, tirava as folhas com todo cuidado para não desmanchar os cachos da menina. Era uma menina educada de olhos marcantes. Encantava e alegrava tudo a sua volta.
        - Lave as mãos, menina. Vamos jantar.
Era a parte do dia que Stella mais se sentia segura. Ficava sentada a mesa com seu pai enquanto sua irmã mais velha ajudava a mãe a servir o jantar.
        - Teremos torta de maçã para sobremesa. – cochichou a irmã em seu ouvido.
Maçã era sua fruta preferida. Nunca achou que frutas combinassem com massas. Mas, aquele dia, ao morder o primeiro pedaço da torta, ela mudou de opinião. E todos os dias sua mãe a ouvia pedir a sua torta preferida. Torta de maçã.
         Os anos foram se passando, e Stella viu sua mãe falecer. Sem aguentar a dor da perda, meses depois, também, seu pai. Aos 23 anos, sua irmã, Alice, se casou com um rapaz da faculdade. Sabendo que, Stella, com 18, já era madura e responsável o suficiente para cuidar de si mesma, mandou-a de viagem para estudar.
         Stella encontrou Pedro, seu primeiro e único amor. Com quem se casou e teve 2 dois filhos. Uma linda e grande casa, seus filhos tinham de tudo, e ela tinha todo amor que merecia. Mas, toda noite, antes de dormir, Stella pensava em como gostaria que seus pais estivessem vivos desfrutando daquilo com ela.
Alguns meses após seu segundo filho ter nascido, Stella recebeu uma carta do marido de sua irmã, dizendo que ela falecera devido a uma tuberculose. Ficou pasma, e não falou com ninguém durante dias.
         Passaram-se anos e Stella viu seus filhos crescerem e sua vida envelhecer. Seu marido, embora não estivesse jovem como quando ela o conheceu, preservava o mesmo sorriso e afeto que a cativara.
         Lindos anos, não é, Dona Stella?
         Sentada em sua cadeira de balanço, deixou cair algumas lágrimas ao relembrar sua vida. Mas, logo deu conta de que não havia o que fazer, as coisas não voltariam. Levantou-se e foi tomar seus remédios. Afinal, era o que tinha que fazer. Continuar a viver, independente do que havia passado. Pois naquela casa, onde ela era sua própria companhia, ficaram os vestígios de lindos sorrisos e longos abraços. E, por mais que estivesse sozinha na vida, se orgulhava em lembrar e agradecia aos céus por tudo que teve.
        Naquela tarde, com o coração transbordando em recordações, Stella sentou-se na cama e pegou o álbum de fotografias. Percebeu que, com certa frequência, as pessoas iam desaparecendo de lá, mas, o sorriso das que ficavam era sempre o mesmo. Refletiu. Tomou seu último remédio, beijou a foto da família e sorriu. Era feliz, apesar de tudo. Deitou-se e dormiu. E, todas aquelas flores que deveria regar quando acordasse, murcharam e caíram sem vida.