segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Nuvem

Faz um tempo. Uns anos. Ela saiu de um relacionamento.
Perdeu uma pessoa. Talvez duas.
Encontrou alguém, entrou em outro e não era só com uma pessoa. Na verdade, eram umas dez.
E, veja só, o protagonista daquele romance era o único que não dava valor aos minutos vividos.
Ela sofria como se a cada dia perdesse um pedaço da alma. E, de fato, era isso que acontecia.
Os coadjuvantes tentavam reconstruí-la. Com toda aquela paz que transmitiam. 
Em alguns momentos até conseguiam preencher alguns buracos de pedaços que pareciam impossíveis de recuperar.
Mas todos os dias ela tirava um pedaço de si para dar a quem faltava. Àquele que estava perdendo a alma.
Sua alegria, sua risada boba, sua paciência, sua felicidade, sua dignidade... cada dia se perdiam um pouco.
E todo dia mais um pouco. E mais um pouco. E mais.
No final das contas, nem mesmo a última parte suportou.
Dizem que a esperança é a última que morre. E, crente, ela fez dessa frase seu alicerce por anos.
Até que nem mesmo a esperança conseguiu suportar.
Tudo o que havia plantado, regado e cuidado com todas as suas forças pediu para ser deixado.
Pediu para morrer.
Então, ela deixou morrer. E, se quer saber, foi um alívio.
Ela carregava o peso do mundo, de outro mundo, nas costas. Consequências de coisas que nunca tinha vivido. Carregava sozinha.

Mas, não pense que se arrepende.
Hoje sabe que existem jardins que não dão flores.