sábado, 8 de outubro de 2016

O choro é livre

Quando eu era mais nova, tinha uma facilidade absurda pra chorar. Isso acontecia constantemente e podia ser até sem motivo aparente. De alguma forma, eu sempre encontrei conforto no choro, por mais desesperador que fosse.
Me pergunto o que houve comigo porque não consigo mais colocar uma música e chorar o quanto preciso. Agora eu só consigo chorar com um filme cuidadosamente selecionado.

Eu demorei meses pra chorar a morte da minha tia.
Demorei anos pra chorar o desespero de não estar nem perto de ser o que sempre quis.
E tem tantas outras coisas que nem sei quando vou chorar.

Ficar sem chorar é guardar tudo o que te dói e fingir que nunca aconteceu. 







terça-feira, 9 de agosto de 2016

Sou nós


Tenho mania de sorrir feito boba quando lembro do dia que você sentou ao meu lado, quando eu precisava de cia e nem eu mesma sabia. É! Aquele dia em que eu chorei em silêncio e você me confortou em silêncio. Naquele momento eu soube que podia abrir minha alma pra você.

Hoje sorri feito boba ao lembrar de quando você levava o violão pra escola e tentava me ensinar uns riffizins que você jurava ser fácil. Eu desistia, pedia pra você tocar Raul e cantávamos alto no intervalo, enquanto dividíamos um quadradinho de queijo que parecia ter sido esquecido no óleo.

Hoje sorri feito boba ao lembrar que discutíamos todos os novos álbuns e descobertas musicais:
- Tenho muita vontade de correr quando escuto Resistance do Muse! 
- Mano, dá muita vontade de correr! 
- Mano, Stone Roses é foda!
- I wanna be a doooor! 
- É adored!
- Não é a door?

Hoje sorri feito boba ao lembrar que você reparava nas minhas roupas personalizadas. Aquela calça manchada de cândida na barra que eu enchi de botões... bem, acho que só você e eu gostávamos daquele detalhe quase imperceptível.

Hoje sorri feito boba ao lembrar quando você me acompanhou até em casa e nos despedimos originalmente com "Adeus Paulistinha do meu coração, lá pro meu sertão eu quero voltar!". Foi triste quando o condomínio decidiu erguer os muros.

Hoje sorri feito boba de quando estávamos no carro e começou a chover. Decidimos parar pra tomar chuva, estava calor, os pingos caíam com força e você fez questão de me mostrar uma música do Jake Bugg. Eu nem imaginava que aquela seria uma das trilhas mais tocadas nas nossas tardes de bebedeira tempos depois.

Hoje sorri feito boba ao lembrar do quanto a gente se divertia e passava frio no quintal que parecia ser o cenário perfeito pra nós. A trilha sonora, as nossas risadas e confissões sinceras com a luz da Lua. Todo esse improviso que se tornou um filme que minha cabeça insiste em reprisar. 

Hoje sorri feito boba ao lembrar de quando você me mandou uma de suas músicas e aquela dizia "Como vamos para o Sul?". Bem, a gente ainda não sabe. Ainda.

Hoje sorri feito boba ao perceber que por todos esses anos nós cultivamos algo que não sabíamos onde ia dar. Por algum motivo, eu nunca quis te deixar ir. Eu nunca quis que você me deixasse ir. Com muitos nós na garganta, descobertas e amadurecimento, nós crescemos. Juntos até quando estávamos separados. E aqui estamos.

Hoje sorri feito boba ao imaginar como será quando eu chegar em casa.
Vou te abraçar como se tivesse ficado uma vida fora, sentar no sofá e revezar o carinho entre você e os gatos. Deitar no nosso colchão defeituoso e te abraçar. 
E sorrir. 
Sorrir feito boba por ter você.

Pretendo fazer isso por dias.
Todos os dias.
Pro resto da vida.


Com o coração transbordando,The National no play e toda saudade do mundo,
Laisa



"I wanna hurry home to you
Put on a slow, dumb show for you and crack you up
So you can put a blue ribbon on my brain
God, I'm very, very frightening
I'll overdo it 
You know I dreamed about you..."

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Com açúcar, com afeto.

Hey, vem cá, me faz um café.
Deixa eu falar coisas banais enquanto você acende seu cigarro pra acompanhar.
Nunca falta assunto e você sempre ri das minhas bobagens.

Hey, vem cá, traz aquele vinho ruim que eu comprei.
E deita aqui.
Me mostra a Lua enquanto eu procuro as Três Marias.
Elas estão cada vez mais apagadas.

Então, agora é hora de contar os pensamentos mais profundos.
Você hesita em me dizer coisas bonitas. Mas me abraça pra mostrá-las.
Está frio. A gente tem que entrar.
Você fica doente fácil e os pernilongos estão nos devorando.
A trilha sonora parece estar no repeat.

Vem cá, deixa eu te fazer carinho na barba porque você acorda cedo amanhã.
E eu não sinto vontade de dormir quando estou ao seu lado.
E a trilha sonora ainda está no repeat.

Vem cá porque o mundo tá acabando e a gente ainda tá planejando se salvar.
Deixa eu aproveitar minha bebedeira e dizer o quanto te gosto.
Usando aquele sotaque que você disse que consegui em dois dias.

Deixa eu fingir que sou forte o suficiente pra esconder tudo.
Deixa eu fingir que não te quero perto.
Deixa assim porque ainda me surpreendo quando lê minha mente.
E quando o random teima em tocar o áudio que me mandou.

Agora pode ser chá.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Nuvem

Faz um tempo. Uns anos. Ela saiu de um relacionamento.
Perdeu uma pessoa. Talvez duas.
Encontrou alguém, entrou em outro e não era só com uma pessoa. Na verdade, eram umas dez.
E, veja só, o protagonista daquele romance era o único que não dava valor aos minutos vividos.
Ela sofria como se a cada dia perdesse um pedaço da alma. E, de fato, era isso que acontecia.
Os coadjuvantes tentavam reconstruí-la. Com toda aquela paz que transmitiam. 
Em alguns momentos até conseguiam preencher alguns buracos de pedaços que pareciam impossíveis de recuperar.
Mas todos os dias ela tirava um pedaço de si para dar a quem faltava. Àquele que estava perdendo a alma.
Sua alegria, sua risada boba, sua paciência, sua felicidade, sua dignidade... cada dia se perdiam um pouco.
E todo dia mais um pouco. E mais um pouco. E mais.
No final das contas, nem mesmo a última parte suportou.
Dizem que a esperança é a última que morre. E, crente, ela fez dessa frase seu alicerce por anos.
Até que nem mesmo a esperança conseguiu suportar.
Tudo o que havia plantado, regado e cuidado com todas as suas forças pediu para ser deixado.
Pediu para morrer.
Então, ela deixou morrer. E, se quer saber, foi um alívio.
Ela carregava o peso do mundo, de outro mundo, nas costas. Consequências de coisas que nunca tinha vivido. Carregava sozinha.

Mas, não pense que se arrepende.
Hoje sabe que existem jardins que não dão flores.






sábado, 8 de dezembro de 2012

Sem o amargo, o doce não seria tão doce!


Não sei por onde começar e nem sei se termino.
Não venho falar de nada que faça sentido. De fato.
De fato, tenho sentido falta de algo que não sei o que é.
Tem feito falta, me sinto vazia.

Eu que sou velha demais pra minha idade ou eles que são ridículos demais?
É, eu prefiro acreditar que sou velha demais pra minha idade.

O que não sai da minha cabeça é que preciso sair daqui. Quero ir pra Irlanda. Quero ir pro Rio Grande do Sul. É, e quero ir logo. Esse é o problema. Quero agora! Não sei o que mudaria, se mudaria, mas a rotina me mata!

Quero levar coisas, sentimentos, cartas e pessoas.
Cabe tudo isso na bagagem?
Quem sabe mais alguém comece a juntar moedas no cofrinho.

Acabo de me lembrar que vi o Dallas! Aquele maldito que fica cantando no meu ouvido todos os dias. É, eu o vi! Acho que mudei de ideia. Quero ir pro Canadá!

Ahhhh!

“There’s a degree of difficulty in dealing with me
From my haunted past comes a daunting task of living through memories
If we could just hang a mirror on the bedroom wall, stare into the past and forget it all
So when we leave it’ll be a quick midnight scape
We’ll disconnect ourselves from all yesterday
I’ll dig  for water and fashion our very own wishing well
Then we’ll throw our coins down hoping to rid us of this little hell.”

Whatever!