Faz um tempo. Uns anos. Ela saiu de um
relacionamento.
Perdeu uma pessoa. Talvez duas.
Encontrou alguém, entrou em outro e não
era só com uma pessoa. Na verdade, eram umas dez.
E, veja só, o protagonista daquele
romance era o único que não dava valor aos minutos vividos.
Ela sofria como se a cada dia perdesse
um pedaço da alma. E, de fato, era isso que acontecia.
Os coadjuvantes tentavam reconstruí-la.
Com toda aquela paz que transmitiam.
Em alguns momentos até conseguiam
preencher alguns buracos de pedaços que pareciam impossíveis de recuperar.
Mas todos os dias ela tirava um pedaço
de si para dar a quem faltava. Àquele que estava perdendo a alma.
Sua alegria, sua risada boba, sua
paciência, sua felicidade, sua dignidade... cada dia se perdiam um pouco.
E todo dia mais um pouco. E mais um
pouco. E mais.
No final das contas, nem mesmo a última
parte suportou.
Dizem que a esperança é a última que
morre. E, crente, ela fez dessa frase seu alicerce por anos.
Até que nem mesmo a esperança conseguiu
suportar.
Tudo o que havia plantado, regado e
cuidado com todas as suas forças pediu para ser deixado.
Pediu para morrer.
Então, ela deixou morrer. E, se quer
saber, foi um alívio.
Ela carregava o peso do mundo, de outro
mundo, nas costas. Consequências de coisas que nunca tinha vivido. Carregava
sozinha.
Mas, não pense que se arrepende.
Hoje sabe que existem jardins que não
dão flores.